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segunda-feira, 31 de maio de 2010



                                 John Baldessari: Escolher e organizar

 
À Fernando Pessoa

Nas folhas arrancadas dos livros as memórias são reverenciadas.
Nos altares cravejados de cacos coloridos o olhar herege é seduzido em meio aos vermelhos e dourados, a embriaguês das curvas enviezadas e emaranhados do tempo. Caixinhas guardam objetos que esperam fechados, avarentos. Têm o tempo pesado das coisas. Em imagens o mundo se move. Pensar é estar doente dos olhos.
Tempo circular – paisagens luxuriantes. Vertigem carrossel carnaval. Olhar para si em um caleidoscópio. O abismo das coisas é redondo. As ruas dentro das casas, as casas nos armários, pessoas em gavetas, janelas para dentro, o dentro no fora. O pipoqueiro... Altares são reverenciados. Nas cores do asfalto faíscas de TV. Nas cordas vocais de uma cidade que se reveste toda de tempos, migalhas de instantes. Nas janelas de coisas apartamentos quaisquer.
Alguém dorme ou está me vendo ou andando em casa, nas ruas dentro de casa se esconde nos armários avarentos arrancam folhas dos livros.
Não sou nada, nunca serei nada, não posso querer ser nada. À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.


Escrito por Eloiza Gurgel

De dentro do noticiário:
Um pipoqueiro corta a favela, espancado e queimado à beira da Avenida Brasil.
O ambulante risca o mundo, se arrisca mudo
ainda marcado a ferro e fogo com as iniciais de uma facção criminosa.
De dentro das casas:
O mistério em quem mora. O que há da vida nas cores dos fios das coisas?
Para dentro da favela:
Vê-se os destroços da carrocinha
Visto assim do alto mais parece o céu no chão, sei lá não sei, sei lá não sei não...

A exuberância de uma imagem violenta, terna e absurda ensurdecedora dos olhares que atravessam os jornais.


Escrito por Eloiza Gurgel

sexta-feira, 28 de maio de 2010

PIPOQUEIRO

Indissociável das luzes significantes da respiração das ruas, fantasmagoria do cotidiano das cidades. Parte da paisagem urbana desaparece reaparece como se nunca tivesse existido. Algo se inscreve nas ruas como puro sabor. Vê-se um cheiro seco, amarelecido. Aparentemente eu vi. O carrinho metálico de tons enferrujados, lâmpada acesa em um poema sujo. As cidades com cheiro de pipocas são mais humanas. Apesar da compressão do tempo, existe um pipoqueiro em cada esquina. Isso é uma forma de não dizer. É só aparentemente um cheiro.



Esrito por Eloiza Gurgel

sábado, 1 de maio de 2010

Abrindo o dia


Nos delírios da metrópole explodem,
implodem, se fodem. Nos delírios se
podem, as fronteiras se dissolvem.
É noite.O derramamento lírico do
leite escorrendo dos seios das
putas pelo chão arrasta a sujeira
ferruginosa de lágrimas loucas
delírios vãos, na metrópole explodem,
implodem, se fodem. As fronteiras se
dissolvem em uma gargalhada abrindo
o dia despencando a noite e as suas
sucatas ecos de coisas parcas retorcidas
de ferros. Copacabana subterrânea a céu
aberto nas suas estrelas de neon se
fodem nas galerias a meio fio na corda
bamba de um dia a noite despenca dos
seios das putas o salto alto do sapato
quebrou. Nos delírios da metrópole
o pipoqueiro ensangüentado do sal
de chuva desespero ácido explode.
Afetação mundo cadela nos embrulhos
de jornal o cotidiano estilhaçado,
as fronteiras se dissolvem em uma
gargalhada abrindo o dia. É sábado.

Escrito por Eloiza Gurgel