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sábado, 17 de julho de 2010

Jean-Michel Basquiat


O jovem pintor afro-americano era filho de Gerard Jean-Baptiste Basquiat, ex-ministro do interior do Haiti que se tornou proprietário de um grande escritório de contabilidade ao imigrar para os Estados Unidos e de Mathilde Andrada, de origem portorriquenha. Era o primeiro, dos três filhos do casal, de classe média alta.

Aos sete anos, por ocasião de um atropelamento que o deixou, durante algum tempo imobilizado, sua mãe lhe dá de presente um livro de anatomia, o Gray's Anatomy. As impactantes imagens desse livro estariam, tempos depois, nas pinturas, nos graffites e desenhos de Basquiat, e até no nome da banda musical de curta duração fundada pelo artista em 1979, a Gray's, uma banda que assumia as influências dos ventos latinos, vindos do Caribe e de Porto Rico, influências essas que sopravam sobre a cena artística de Nova York, nas manifestações do hip hop, do break e do rap.

Notary, 1983

Basquiat toma contato com suas origens latinas quando se muda com o pai e as irmãs para Porto Rico, durante o período de 1974 a 1976. Aos 17 anos está de volta a Nova York e não consegue se adaptar às escolas convencionais. Passa a freqüentar a Edward R. Murrow High School mas a abandona praticamente no final do curso, sai de casa, vai morar com amigos, e passa a pintar camisetas que ele mesmo vende nas ruas.

Com o artista gráfico Al Diaz cria a SAMO (same old shit - mesma velha merda), marca e assinatura que usava para espalhar as suas obras pelas paredes da cidade. Passa a viver nas ruas e a grafitar paredes, portas de casas e metrôs de Nova York.

Aos poucos torna-se uma celebridade. Em um programa de TV a cabo é convidado a participar do filme Downtown 81. Esse filme relata um dia na vida do jovem artista e apresenta um cenário artístico e musical do qual fazem parte as expressões do hip hop, do new wave e do graffiti, manifestações que emergiam no início dos efervescentes anos 1980 em Manhattan.


Pegasus, 1987

Basquiat começou a ser mais amplamente reconhecido em junho de 1980 quando participou do The Times Square Show, uma exposição de vários artistas patrocinada por uma instituição de nome "Colab". Em 1981, o poeta, crítico de arte e provocador cultural Rene Ricard publicou um artigo em que comentava sobre Basquiat. Isso alavancou a carreira do artista internacionalmente. Nos anos consecutivos, ele continuou a exibir sua obra em Nova yorque ao lado de artistas como Keith Haring e Barbara Kruger. Também realizou exposições internacionais com a ajuda de galeristas famosos.

Já em 1982, Basquiat era visto freqüentemente na companhia de Julian Schnabel, David Salle e outros curadores, colecionadores e especialistas em arte que seriam conhecidos depois como os "neo-expressionistas". Ele começou a namorar, também, uma cantora desconhecida na época, Madonna. Neste mesmo ano, conheceu Andy Warhol, com quem colaborou ostensivamente e cultivou amizade.

Warhol proporcionou a Basquiat lugar para morar, materiais para trabalhar, além de ajudar a divulgar o seu trabalho e patrocinar algumas excentricidades. Nessa época Basquiat abandona a arte de rua e o graffiti. O projeto "SAMO" acabou com o epitáfio "SAMO IS DEAD" (SAMO está morto) escrito nas paredes de construções do SoHo novaiorquino.

Basquiat começa a pintar telas que passam a ser adquiridas e comercializadas por marchands de Zurique, Nova York, Tóquio e Los Angeles, ávidos por novidades. De artista que vivia precariamente passa a ser um artista consumido e recebido nos salões mais importantes de Nova York.


Exu, 1988

Gravestone, 1987

A arte de Basquiat, chamada pelos críticos de "primitivismo intelectualizado", uma tendência neo-expressionista, apresenta ícones negros da música e do boxe, cenas da vida urbana, além de colagens, junto a pinceladas nervosas, rabiscos, escritas indecifráveis, sempre em cores fortes e em telas grandes. Quase sempre o elemento negro está retratado, em meio ao caos. Há também uma dessacralização de ícones da história da arte, como a sua Mona Lisa (acrílico e óleo sobre tela) que é uma figura monstruosa riscada no suporte.

O período mais criativo da curta vida e da carreira meteórica de Basquiat situa-se entre 1982-1985, e coincide com a amizade com Warhol, época em que faz colagens e quadros com mensagens escritas, que remetem às suas raízes africanas. É também o período em que começa a participar de grandes exposições.

A morte do amigo e protetor Andy Warhol, em 1987, deixa o artista abalado e isso se reflete na sua criação. Os críticos, sempre muito exigentes, já não o tratam com unanimidade e Basquiat responde a essas cobranças, associando-as ao racismo da sociedade americana.


Untitled, 1981

Native Cerrying Some Guns, Bibles, Amorites on Safari, 1982

Solitário, exagera no consumo de drogas e em agosto de 1988 acontece a trágica morte por overdose de heroína, que põe fim à carreira brilhante do primeiro afro-americano a ter acesso à fechada cena das artes plásticas novaiorquinas. Basquiat esteve presente nas mais importantes mostras do mundo, entre elas, uma sala especial, em 1996, na 23ª Bienal de São Paulo, e em 1998, numa retrospectiva na Pinacoteca do Estado de São Paulo.

Em 2010, para comemorar o 50.° aniversário do nascimento de Basquiat, a Fundação Beyeler (Basileia, Suíça), dedica ao artista uma retrospectiva, a primeira com esta envergadura a ser apresentada na Europa. Estão expostas centenas de pinturas em tela, desenhos e muitos outros objetos provenientes dos grandes museus do mundo e de algumas coleções particulares - uma bela mostra do percurso desse artista.

Basquiat & Friends- Gespräch mit Freunden von Jean-Michel Basquiat
Fondation Beyeler
Baselstrasse 101, Riehen, Basileia, Suíça
Até 5 de Setembro

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