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segunda-feira, 21 de junho de 2010

Para o céu um belo azul, o mais azul dos azuis (a superfície é pintada até a saturação, vale dizer, até um ponto em que finalmente emerge o azul, a idéia do azul absoluto), e o mesmo vale para o verde da terra, para o vermelhão vibrante dos corpos (Henri Matisse).


      Henri Matisse: Horse, Rider, and Clown

Barquinhos de papel

Lancei barquinhos de papel
à enxurrada dos dias.
Ao meio-fio das calçadas, corriam
entre habitantes das sarjetas.
Entoando, os tripulantes, cânticos lúdicos
desconhecendo os hábitos da chuva
ao leito e às ruas do Maracanã.

O vento desmanchava os barcos
e ao desabrigo ficavam passageiros
órfãos do desejo, carentes de afeto
— pêndulos apenas —
agarravam-se a moléculas do papel
em extremado esforço. E às dobras
do corpo, a evitar destroços.

E ainda subvertem a lama e o cascalho
— apenas combatentes —
resistindo a corredeiras nas esquinas.
E, hoje, acreditando na atávica memória
de embarcações, a transgredir o sono,
lancei barquinhos de papel no espaço
e um leve frêmito, para acordar os pássaros.

Léa Lima
do Livro Cercanias do Outono.
 

Um comentário:

  1. Oi, Lolô! Estou em muito boa companhia, nesta viagem poética. Obrigada, pelo tratamento aos meus barquinhos. Já podemos voltar ao Madureira, em meu nome. Coisas de um ser escaleno, como diria Manoel de Barros. Vou assinar: Léa Madureira Lima (preciso saber do nome que tenho). "Conheces o nome que te deram, não conheces o nome que tens" (de "Todos os nomes", romance extraordinário de José Saramago). Parabéns, pelo blog seleto e mutiplicador de caminhos! Bjcs, tia Léa ("As cercanias do outono", depois de "Por não haver navegado", mais um em redondilha maior, rssss)

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